Susana Goulart Costa apresentou, esta quinta-feira, à Assembleia Legislativa dos Açores, em nome do PS/Açores, o seguinte voto de congratulação, aprovado por unanimidade, que se transcreve na íntegra:
VOTO DE CONGRATULAÇÃO PELO CENTENÁRIO DO COLISEU MICAELENSE
(1917-2017)
O Coliseu Micaelense é inaugurado a 10 de maio de 1917, na cidade de Ponta Delgada. É baptizado como Coliseu Avenida, herdando este nome do alargamento da cidade que, desde finais do século XIX, se estendia para norte, por via da construção da avenida Roberto Ivens.
Desde a sua fundação, o Coliseu Avenida tornou-se uma referência cultural dos Açores, justificando-se esta centralidade por diversas razões:
- a monumentalidade do seu edifício, devido a uma fachada que percorria 32 metros da avenida Roberto Ivens e 57 metros da rua de Lisboa;
- a espectacularidade do imóvel, réplica a meia escala do Coliseu de Lisboa, capaz de albergar, logo nos primórdios do seu funcionamento, 3.000 espectadores, distribuídos por 80 camarotes, 600 cadeiras e 1200 lugares na geral;
- a inovação arquitectónica, comprovada não apenas pelo design da cúpula, mas igualmente por utilizar o ferro na sua estrutura arquitectónica e decorativa, tornando-se o primeiro exemplar da arquitectura do ferro nos Açores;
- a versatilidade lúdica do seu palco, anfitrião de espectáculos tão diversos como circo, zarzuela, cinema, recitais, teatro, dança, revistas, musicais e múltiplos espectáculos de variedades, muitos deles com fins caritativos… Neste processo, o Coliseu assistiu à passagem do cinema mudo para o sonoro e do cinema a preto e branco para o colorido. De igual modo, observou a decadência da Batalha das Flores e a emergência da Batalha das Limas, adicionando ainda ao carnaval micaelense a ainda activa tradição dos bailes, o primeiro dos quais realizado em 1921.
O sucesso do Coliseu Avenida foi coeso até à eclosão da Segunda Guerra Mundial. Na década de 1940, surgiram as primeiras dificuldades, não só por causa da concorrência de outras casas de espectáculo que, entretanto, surgiram na ilha de São Miguel, como devido à inflação que a guerra provocava nos preços dos filmes e das companhias de artistas e nos respectivos transportes. É neste contexto que, em 1950, o nascente Teatro Micaelense compra o Coliseu Avenida. A partir de então, o imóvel é reabaptizado como Coliseu Micaelense, nome que mantém até à actualidade.
Em 1960, o Coliseu, tal como o Teatro Micaelense, passa a ser gerido pela Cinaçor (Sociedade de Teatro e Cinema Açores, S.A.,), pertencente à Fundação dos Botelhos de Nossa Senhora da Vida. Nesta segunda fase, o Coliseu manteve a sua programação cultural, mas também acolheu eventos diversificados, nomeadamente espectáculos de ilusionismo e de hipnotismo e inúmeras festas de natal. Não menos importante foi o papel que o Coliseu desempenhou como anfitrião de eventos políticos, não só os da época do Estado Novo, como os realizados no período efervescente entre 1974 e 1976.
Todavia, a partir de finais da década de 1980, o Coliseu deixa de ter uma programação regular, vindo o imóvel a deteriorar-se cada vez mais. Entre 2002 e 2003, a Câmara Municipal de Ponta Delgada torna-se a maior accionista do Coliseu Micaelense, iniciando o projecto de revitalização do edifício, o qual é reinaugurado em 2005. Dois anos depois, é criado o Museu do Coliseu Micaelense, que fixa o historial centenário do edifício e dos seus inúmeros habitantes.
Assim, é reconhecendo a singularidade e a longevidade histórica do Coliseu que o Grupo Parlamentar do Partido Socialista, ao abrigo das disposições regimentais aplicáveis, propõe à Assembleia Legislativa Regional dos Açores a aprovação do presente voto de congratulação pelos cem anos do Coliseu Micaelense. Deste voto deve ser dado conhecimento à direção do Coliseu Micaelense e à Câmara Municipal de Ponta Delgada.